8 de dezembro de 2010

Esses dias um amigo argentino meu estava com um trecho de Sampa ("É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi...") no subnick do MSN.
Ele é músico e completamente fascinado por MPB. Abri sua janela e enviei "Da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas..." e ele logo me contou que estava tocando compulsivamente esta música no piano.
Enviei para ele uma foto minha e de alguns amigos fazendo pose na esquina das Avenidas Ipiranga e São João, na recente viagem que fizemos à São Paulo e o hermano foi a loucura.

-Gabiii, me haces viajar. Que hermoso fue eso. Yo AMO a Brasil!

Achei doce. Extremamente doce e sincero. Um argentino apaixonado por terras brasileiras. Contraditório e bonito.
Sinceramente? Alguma coisa também acontece no meu coração quando cruzo a Aduana Argentina.

3 de dezembro de 2010

Dezembro chegou, a minha depressão natalina também (tema para outro post mais próxima à festa cristã, do velho e do novo, blá, blá, blá) e estou cansada.
Cansaço em perfeita harmonia com a vontade de chutar o balde e mandar geral tomar no cu.
Aí ontem, assisti um vídeo esquecido em meu computador. Um vídeo bem tosco, com fotos de uma viagem que fiz para o litoral de Santa Catarina entre dezembro de 2007 e janeiro de 2008. E olha, que saudade!
Os meus cabelos ainda tingidos de loiro, eu e minhas primas, cada dia uma praia diferente. E o Sol, e o mar e os passeios pelo calçadão de Camboriú. Cervejas, caipirinhas, vodka misturada a qualquer coisa. E eu gastando todo meu espanhol com os argentinos, paraguaios e chilenos que encontrávamos pelo caminho. Pés descalços na areia e flores para Iemanjá na virada do ano. Porres homéricos. Porres homéricos aliados a baladas homéricas. Coisas como cantar "Yo te digo todo va a estar bien, no te preocupes mas, oh no..." a plenos pulmões em cima de um banco, sair pra comprar vodka de baby doll, ir comer na pizzaria evangélica que servia pizzas como "Apocalipse" e "Thiago Zebedeu"... Enfim, férias inesquecíveis.
Inesquecíveis talvez porque aqueles eram outros tempos. Talvez porque eu não tivesse tantas preocupações. Talvez porque eu estivesse solteira, depois de tanto tempo (e tanta merda), cantando como um mantra "Sou praieiro, sou guerreiro, tô solteiro, quero mais o quê-ê" e balançando os bracinhos de uma maneira ridícula. Talvez porque ainda não tivesse saído do armário. Talvez porque estava na companhia das minhas primas. Talvez porque uma delas ainda não era mãe aos 16 anos. Talvez porque eu ainda não estava na faculdade. Talvez porque eu ainda não tinha nem 20 anos. Talvez...
(Suspiro)
Não é uma reclamação, é só saudade. Saudade da irresponsabilidade de outrora. O tempo trouxe a faculdade, os trabalhos, problemas em família, maturidade, bons amigos, uma pessoa maravilhosa que está a meu lado, planos para mais férias inesquecíveis... Trouxe coisas boas, trouxe coisas ruins, esse cansaço todo final de ano e a nostalgia daquela época boa.
É, é só saudade.

1 de dezembro de 2010

Escolhas

A vida é feita de escolhas.
Ainda hoje conversávamos sobre essa coisa de "cada escolha uma renúncia" e talz.
Eu escolhi cursar Comunicação Social. E semana passada eu tive uma crise. Crise do tipo "Céus, porque é que estou fazendo Jornalismo?".
Eu acreditava piamente que queria ser jornalista. No Ensino Médio era uma das poucas pessoas que dizia com firmeza que curso gostaria de fazer. Passei com méritos em todas as faculdades particulares da cidade, mas o objetivo era a Federal e enquanto eu não passasse eu não sossegaria.
Passei para Letras (minha segunda opção) e decidi começar o curso. Seis meses depois, após muita encheção de saco por parte da minha mãe, prestei mais um vestibular para Jornalismo e acabei passando.
Chororô, alegria, trote, toda aquela palhaçada que acompanha o pacote "Passei no vestibular". Lembro a felicidade com que fiz a matrícula e o entusiasmo nas primeiras semanas de aula.
Tsc.
Dois anos depois e eu não me reconheço. Eu via o Jornalismo com outros olhos. Um curso alternativo e dinâmico, professores apaixonados pela profissão, colegas de mente aberta... E o que encontrei? Nada do que eu procurava.
Ok. Eu escolhi fazer Comunicação Social na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Mato Grosso do Sul, né? Quase uma fazenda. Se eu tivesse seguido os passos (e os conselhos) de meu pai, estaria formada em Medicina Veterinária, fazendo exames andrológicos e ganhando muita grana. Mas, mexer com bovinos nunca foi a minha praia e cá estou eu, em crise.
Entre um desespero aqui, um choro convulsivo ali, eu descobri que SÓ gosto de escrever. E SÓ gostar de escrever não significa (e nunca significou) que eu poderia ser jornalista. Eu não gosto de ter um tema específico para escrever, eu não gosto de trabalhar sob pressão, eu não me importo com a ética e com a cultura de massa. Eu não gosto de estudar os ângulos da fotografia e as ferramentas do CorelDRAW. Eu não aguento professores desinteressados. Eu aguento muito menos colegas que curtem Los Hermanos, fazem discursos políticos, fumam um e são preconceituosos até dizer chega. "Mas você tem um rosto ótimo para Tele". Caguei pro Telejornalismo.
É claro, nem tudo é ruim e eu sei que tudo isso não teria importância se eu realmente sentisse que tenho vocação para a coisa. Eu gosto de fazer entrevistas, eu me divirto narrando notícias na disciplina de Radiojornalismo, eu gosto das discussões inteligentes que vira e mexe começam durante as aulas, eu conheci pessoas maravilhosas, humanas e que certamente serão excelentes profissionais, mas, ainda falta algo.
Falta paixão, falta gostar do que se faz, falta vontade. Não consigo disfarçar o sorriso amarelo quando encontro os antigos colegas de Letras e eles me perguntam: "E aí, tá gostando de Jornalismo?"
Sinto falta das aulas de Semiótica, de Latim. Dos livros de Literatura Portuguesa, das citações poéticas. Meu conteúdo jornalístico é sempre tão literário. Ironias da vida.
Mas, a vida é feita de escolhas e eu escolhi Jornalismo. E todos dizem que eu devo continuar. E já na metade do curso, eu acredito que talvez seja a melhor opção.
Ou não. Vai saber.

17 de outubro de 2010

Vai. Mas volta.


"Tempos e ventos e tardes e noites passando
De gente partindo, de gente chegando
Na vida da gente não falta saudade
E tudo que simbolize a paz
Deixe espalhado em sua casa
Violetas, flores e perfumes
Assim o nosso amor se manterá intacto

Ninguém ganha nada sem perder
Se manterá intacto
Fico aqui torcendo por você"

(Alma Djem)

Foto: www.floresiflores.blogspot.com

13 de outubro de 2010

Feriado

Foram dias de espera até os tais dias chegarem.
E depois foram dias de noites frias e dias quentes. Foram dias de dividir uma barraca com três pessoas e um colchão não muito confortável com você e não ter vontade alguma de trocar isso por uma cama confortável em algum outro lugar.
Foram dias de escutar músicas ruins e engraçadas praticamente o dia todo, dias de tentativas de permanecer mais de cinco minutos nas piscinas de águas geladas, dias de superar medos de altura e de tobogãs.
Foram dias de tentivas frustradas de dormir durante a madrugada enquanto os vizinhos de acampamento faziam folia. Dias de dividir cobertor e abraços contigo. E acordar com beijos e preguiça.
Foram dias de brincar no parquinho, de jogar sinuca, de dar muitas risadas. Foram dias de besouros e banhos frios. De lágrimas, saudade antecipada e de deitarmos na piscina rasinha, olhando para o céu azul, sem precisarmos dizer uma só palavra para que nos entendessemos.
Foram dias que não queríamos que acabassem.
Foram, muito provavelmente, os dias mais especiais. Por todos esses motivos, que só eu e você entendemos.

6 de outubro de 2010


Ela tinha 7 anos e era uma criança feia.
Tinha poucos amigos, nunca era convidada a entrar nas brincadeiras, era sozinha e aprendeu a fazer todas as coisas desta maneira. Preenchia as horas solitárias lendo livros e rascunhando textos.
Dia 21 de setembro aproximava-se e a professora daquela turma primária passou como tarefa uma redação sobre o dia da árvore. À noite, em casa, ela sentou em sua escrivaninha e passou boas horas pensando, escrevendo, apagando, reescrevendo... Aquilo tudo era tão prazeroso. Ela estava livre de atividades envolvendo números, formas geométricas, textos insossos de Estudos Sociais e Ensino Religioso...
Alguns dias depois, a professora apanhou os papéis sob a mesa e passou a distribuir as redações avaliadas. Fernanda, José Renato, Bianca, Flávia, Maykon... Seu nome não chegava nunca. O coração acelerado, as mãozinhas suando...
Restou uma única folha nas mãos da professora. Ela disse que aquele texto era especial e por isso leria para toda a turma.
Leu o poema sobre árvores com a entonação típica das "tias" do primário. A menina feia envergonhou-se, mas no fundo, estava orgulhosa de si. Recebeu a redação e um abraço apertado da professora. Talvez ela soubesse o quanto aquilo era importante para aquela criança gordinha e rejeitada. Talvez não tivesse idéia.
Naquele dia, a menina foi para a casa contente, querendo contar a novidade aos pais e avós. Sua mãe guardou cuidadosamente (e carinhosamente) o papel.
A criança feia ainda não sabia ao certo o que responder quando lhe perguntavam o que seria quando crescesse, mas a partir deste dia, sabia que nunca mais deixaria de escrever.
E continua escrevendo. Até hoje. Em seus cadernos, em sua agenda, em pedaços de papel e neste blog.


O papel em que foi escrito o poema continua guardado. Um pouco amarelado e puído pelo tempo, mas guardado.

30 de setembro de 2010


Não adianta ir à missa, ir ao culto, ir à sessão de descarrego, ir ao terreiro de umbanda, ir ao centro espírita, ir à mesquita, ir ao templo budista.
Não adianta jogar búzios, tarô, baralho cigano, runas, I ching. De nada adianta numerologia, quiromancia, piromancia, cafeomancia.
Não adianta ler o horóscopo, estudar astrologia, acender incensos pela casa, praticar yoga e meditação.
De nada, nada adianta, reiki, florais, bíblia, oferendas aos orixás, despachos nas encruzilhadas, terços, se VOCÊ não quiser ser feliz.
Estar bem é um estado que flui de dentro pra fora.

E eu estou aprendendo isso. Já era tempo.

Imagem: Sara Glória

14 de setembro de 2010


Se a chuva é purificação então deixa molhar..."

59 dias de estiagem.
E hoje, pela manhã, trovoadas e gotas d'água.
Alívio.
Os tons de cinza também são belos.

13 de setembro de 2010

Noites insônes



A semana começa preguiçosa. E eu ando um pouco azeda.
É difícil manter a energia após noites insônes.
Estou tão cansada.
Queria os comprimidos azuis de outrora que me faziam dormir. Na verdade, queria não precisar deles.
Qualquer lugar bonito longe de dúvidas, telefones tocando, pautas chatas, pessoas nauseantes, faria bem. E eu estenderia uma toalha na areia, debaixo do guarda-sol e dormiria horas seguidas, sentindo a brisa litorânea, escutando as ondas quebrarem.
Mas, no momento, quatro paredes, janela fechada, ar condicionado ligado, um dia quente e seco lá fora e este cansaço.
É difícil manter a energia após noites insônes.
Recordo dos tais pensamentos positivos. São eles quem devem sobressair.
E logo, tudo ficará bem.

8 de setembro de 2010

Positividade



"Emane suas positivas vibrações à vida
Dê força ao bem e não ao mal..."


Sai, uruca!
Quero bons pensamentos, quero ter forças para pensar positivamente, quero pessoas do bem ao meu lado, quero paz...
Quero a energia de um fim de tarde na praia. Diariamente.

Foto: Raphael Millian

7 de setembro de 2010

Nostalgia


Sempre presente.
Em meus pensamentos, em minhas lembranças, em meus sonhos...
Quanta falta.

6 de setembro de 2010

2 de setembro de 2010

Confianzas

"Se sienta a la mesa y escribe
'Con este poema no tomarás el poder', dice
'Con estos versos no hará la Revolución', dice
'Ni con miles de versos harás la Revolución', dice..."

19 de agosto de 2010

Na sua ausência não há vontades.
Não quero pintar as unhas. Não há cor de esmalte que represente vazio. Não tento desembaraçar as ondas do meu cabelo e vou trabalhar com os fios estranhamente amarrados. E de tênis. Sujo.
Passo as horas com os olhos marejados. Insône, as noites intercalam pesadelos e nós no peito. Nós no peito, nós na garganta, nós no coração, nós.
Na sua ausência todas as músicas tornam-se, inexplicavelmente, tristes. Assim como os livros, as palavras, meus escritos, meus passos... Eu espero e-mails que nunca chegarão. Eu insisto em ligações que nunca serão atendidas.
Eu deixo a manha de lado. Não faço birra, não faço bico. Faço todas as refeições diárias, não exagero nas doses de café. Lembro de todas as suas recomendações.
Quando você não está, eu olho pro céu e não vejo estrelas. Não há dança que me embale, não há sorriso que me encante. Não há cheiro que não seja o seu, em todos os lugares.
Na sua ausência eu sou um ser inanimado. Não sonho, não faço planos. Sou andarilha carregando um fardo de culpa. Sou ausente também.
Mas se você está, ah, se você está. Sinto vontade de trocar de esmalte todos os dias, de arrumar meus cabelos só para você desarrumá-lo depois e eu perguntar "Meu cabelo tá bagunçado?". Sair de sandálias de salto alto e ficar muito maior que você. Rir do seu tênis. Sujo.
Trocar as lágrimas por sorrisos. Ter noites de insônia, mas rolar de um lado para o outro pensando em você, intercalando sorrisos e sonhos de olhos abertos. Enviar mil e-mails sem esperar resposta, só pelo prazer de que você os leia. Ligar só para escutar o seu "Oi".
Quando estás, faço manha, birra e bico e ouço você dizer que pareço uma criancinha. Tenho preguiça de comer, mastigo lentamente qualquer porcaria, tomo mais de cinco xícaras de café por dia. Não sigo nenhuma recomendação e levo inúmeras broncas suas. Escuto-as segurando o riso e te dou um beijo no rosto em seguida. E você me olha com cara de quem acredita que eu não tenha mesmo jeito.
Na sua presença, olho pro céu e enxergo todas as constelações, ainda que o céu esteja nublado ou ausente de estrelas. Danço todos os ritmos, me encanto e consequentemente me apaixono todos os dias por seu sorriso. Transfiro seu cheiro para minhas roupas, para o meu corpo, para a minha pele.
Quando você está eu tenho paz. Sonho, planejo, escrevo, me inspiro. Sou poeta carregando um fardo de doçura. Quando você está, eu também estou. Sou presente. És parcela minha. A mais linda, eu diria.

17 de agosto de 2010

À espera

Eu tomo café como água e continuo sem saber o que dizer.
Eu ainda não sei como sair da cama no horário. E isso não é bonito ou encantador.
Eu te sussuro segredos. Eu ainda procuro por salvação. Às vezes sou tão fraca, às vezes sou tão forte.
Então você vai.
Eu te daria tudo por mais uma chance.
Meu coração é feio, mas pode ser só seu.

E já é.

2 de agosto de 2010

Respostas

Engraçado como a vida, ainda que vagarosamente, nos dá respostas.
Eu lembro de um final de tarde ensolarado, um dia após o término de um namoro. Sentada na mesa de um bar, bebia em silêncio um copo de cerveja enquanto meus amigos tentavam de todas as maneiras me alegrar um pouco. Em meio a tanta condolência tentei dizer algo, mas lágrimas caíram e eu silenciei novamente.
Em seguida, uma amiga segurou a minha mão, olhou em meus olhos e disse:
-É tudo uma questão de caráter. O que aconteceu contigo é a prova do que estou te falando.
Ela conhecia a pessoa com quem eu namorei e provavelmente sabia de algo que eu desconhecia, mas só disse aquilo, creio que para me preservar de mais sofrimento.
Naquele momento que não compreendi muito bem aquelas palavras. E tentar entender seria lembrar sempre daquela pessoa que eu precisava esquecer. Sofri muito com o fim desse relacionamento, foi com grande custo que consegui me reerguer, mas o tempo passou e eu consegui reavivar aquela filosofia de que tudo na vida é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.
Há alguns dias presenciei uma cena e compreendi o que minha amiga havia me dito naquela tarde. A vida ali me sorria um sorriso largo.
Era tudo uma questão de caráter, ou melhor, da ausência dele. Distante, muito distante do sentimento da perda daquele alguém, eu pude discernir o quanto aquilo teria me feito mal se levado à diante. E eu me senti tão feliz por ter a consciência tranquila, por ter tido o respeito e o caráter ausentes naquela pessoa. Eu me senti feliz por ter feito e continuar fazendo a coisa certa. É isso que nos deixa em paz.

17 de julho de 2010


Sexta à noite, 8°, neblina e chuva. O plano era ficar em casa, comer pipoca, assistir a um filme e dormir, mas, acabei por aceitar o convite dos meus primos de ir a um bar. Eu não deveria beber nada alcóolico uma vez que constantemente tenho sentido dores insuportáveis no estômago, porém, a combinação barzinho e inverno somada a minha falta de vergonha na cara resultaram em um porre daqueles.
E a noite que deveria acabar bem, acabou comigo intercalando períodos de choro e gorfadas no asfalto. E a bela cena sendo assistida justamente por quem eu menos gostaria que me visse nesse estado.
Com algum esforço entrei em casa e consegui chegar a minha cama. Frio horroroso, o estômago dando voltas como quem dissesse "Vai, bebe mais, filha da puta", tentativas frustradas de tirar as botas dos pés... Um longo processo até conseguir adormecer.
Acordei hoje ainda vestindo as roupas da noite anterior, fazendo cosplay de panda, afinal, retirar a maquiagem preta antes de dormir seria muita função e com um elefante dançando em minha cabeça. Em seguida, um puxão de orelha daqueles da minha mãe. "Você não tem responsabilidade alguma com a sua saúde", "Se você continuar agindo assim, não vou mais me preocupar quando você estiver chorando de dor", "Quantos anos você tem mesmo?" e o que dizer se ela está mais do que certa?
Esses meus impulsos nunca deram em nada. Isso de fazer as coisas sem medir as consequências, de caminhar sempre pelo tortuoso, de levar tudo tão intensamente tem me feito sofrer muito. E mais uma vez não foi diferente.
Procurei em minha caixa de remédios algo para amenizar a dor de cabeça. Último comprimido do analgésico, alívio para a minha hipocondria. Lentamente a dor foi passando, mas não a imensa vergonha e tristeza. Passei o dia cabisbaixa, pensando no quanto preciso ter mais cautela, mais parcimônia...
Não é facil.
Não estou bem.

Nota: Lembrar de comprar analgésico.

15 de julho de 2010


Frio, muito frio. Dor de estômago e preguiça. Deito na cama e releio pela enésima vez o poema transcrito em um pequeno pedaço de papel que recebi há alguns dias atrás. Abro um sorriso e mergulho no cobertor. Vontade de tê-la aqui, a meu lado. Nos dias frios a saudade é mais dolorida. Falta o corpo, os beijos, as mãos dadas, sua respiração, o cheiro do seu cabelo... Falta você, inteira, aqui.

8 de julho de 2010

A noite em que dormi


Há mais de um mês eu não conseguia dormir uma noite inteira. Insônia, pesadelos, crises alérgicas... Ontem, após um dia relativamente complicado e uma crise de choro sem motivos aparentes que me fez rolar na cama durante algum tempo, consegui dormir oito horas initerruptas. Sonhei que estava numa casa de madeira, muito bonita, e do andar de cima podia observar as árvores, as flores, os arbustos e outras plantas que por ali foram cultivadas. Parei o olhar sob um canteiro da onde brotava algo azul. Curiosa, desci as escadas e correndo pela grama, de pés descalços, cheguei ao local. Eram cogumelos. Grandes cogumelos azuis. Fiquei um bom tempo ajoelhada, admirando-os e pensando em quantas coisas bonitas deixei de ver por não ter prestado atenção, por estar de mau humor, por estar mais preocupada em reclamar de algo... Senti uma mão em meu ombro e ouvi alguém dizer "Eu cresci". Era alguém que eu gostava muito e por imaturidade me fez sofrer. Levantei e recebi um forte abraço e um pedido de desculpa. Saímos caminhando, conversando e rindo pelo jardim, tal e qual antigamente.
Acordei em paz.
Talvez tudo o que eu precisasse ontem era por alguns minutos parar de pensar tanto em coisas sem sentido e observar quantas coisas maravilhosas tenho por perto. E um abraço. Ainda que em sonho.

1 de julho de 2010

Stella matutina

"Você deixou a porta aberta pra correr na rua
Quis sentir a brisa noturna
Você não tinha medo, já sabia do segredo
Podia até cantar
Você estava leve, com a aura branca como a neve
Podia até flutuar
E quando se fez mostrar, a estrela da manhã
Você quis me mostrar, e eu quis te abraçar
Encantado com o sorriso, envolto na luz
Da stella matutina, da stella matutina, da stella matutina..."
(Noradrenalina)

Um trecho de uma das inúmeras músicas que eu acredito terem sido escritas por/para mim.

24 de junho de 2010

Encontro

Acontecia sempre.
Ela e essa mania torpe de se apaixonar por qualquer pessoa.
Ela e essa mania torpe de "vamos viver tudo que há pra viver".
E ela conhecia dezenas de pessoas, e ela encontrava em cada sorriso, em cada elogio, em cada ligação no dia seguinte uma possibilidade maluca de ter alguém por perto. Alguém que compreendesse esse jeito estranho, suas insônias, sua dependência por café e Coca Cola Zero, sua mania de comer cada componente de um sanduíche separadamente, suas conversas e histórias intermináveis, seus silêncios quase que perturbadores enquanto escreve... Alguém.
E então aconteciam todos aqueles ritos de conquista. E beijos, mãos, mordidas... E ela se deixava levar por momentos e sensações e repetia para si mesma: "Estou me apaixonando. Estou me apaixonando. Estou me apaixonando.".
Não. Ela não estava. E isso ficava claro dentro de algumas horas, dentro de alguns dias, semanas. E os beijos, as mãos, as mordidas que a princípio pareciam tão agradáveis tornavam-se insuportáveis. E ela até tentava reencontrar a pessoa, mas sentia tanto asco que sua única vontade era entrar em seu carro e ir embora. E era o que fazia. E sentia aquele vazio imenso. Sentia que buscava por algo que não se procura. Sentia vontade de estar em paz.
E ela que nunca gostou muito de sair estava marcando presença em todas as festas. E ela que nunca foi fã de destilados tomava copos e copos de vodka. E em meio a tanta agitação, a tanta música alta, a tantas pessoas eufóricas e desconhecidas dançando, ela não se reconhecia. E o vazio aumentava. E ela chorava e acreditava que aquilo era o que fazia melhor.
E ela dormia, acordava, tomava seu café, trabalhava, tomava seu café, estudava, tomava sua Coca e em seguida seu café, voltava para casa, deitava, pensava, pensava, pensava, chorava um pouco, levantava, escutava músicas, escrevia compulsivamente, chorava, fazia planos, percebia que não dariam certo, chorava, tentava dormir, não conseguia, tomava café, pensava, sentia-se sozinha, sentia-se muito sozinha.
Aí ela encontrou você.

20 de maio de 2010

"However far away, I will always love you..."
(The Cure)

A seleção de música clássica misteriosamente começa a tocar como uma travessura do destino e meu coração dispara. Fecho os olhos e seguro com toda a força as lágrimas que insistem em brotar.
As seis letras que me acompanharam durante 18 anos tomam conta de meus pensamentos e minhas lembranças. Ballet, o grande amor da minha vida.
Das saudades que carrego comigo nenhuma dói mais do que esta. Impossível esquecer algo que está entranhando em você, que faz parte da sua história. Eu recordo todos os dias da sala repleta de espelhos, do cheiro de breu, das aulas de barra, dos intermináveis e cansativos (mas tão deliciosos) ensaios em véspera de apresentações...
O ballet era para mim um paralelo mágico. A meia calça furada, o suor escorrendo, a dor quase insuportável pelas inúmeras lesões, os pés sangrando em dias de ensaio e a fantasia impecável, a maquiagem perfeita, os analgésicos mascarando as dores, as feridas dos pés cuidadosamente envoltas em curativos e o sorriso pleno em dias de apresentação.
Em dezoito anos fui estrela, fada, princesa, escrava, cigana... Vivi todos os contos de fada possíveis. Emocionei pessoas, me emocionei, conheci um estado de alegria sublime, superei limites físicos, adquiri disciplina e uma força interior surpreendente.
Parece que ainda ontem estava no palco, sob o holofote, recebendo os aplausos do público, sorridente. Mas já se passaram seis meses desde a última apresentação. Os tutus e outras fantasias estão pendurados no guarda-roupa, os incontáveis pares de sapatilha guardados, a tatuagem da bailarina em um arabesque estampada em minhas costas, as cicatrizes dos machucados em meus pés, as lesões que adquiri durante este tempo ainda doem, tudo ainda se faz presente aqui. Tanto quanto essa saudade, silenciosa, doída. Tanto quanto esse amor, único, incondicional.

10 de maio de 2010

Menina

"Look your photos, wish I'd known you forever..."
(Reflections of a skyline)

É que você carrega consigo um magnetismo que me encanta. E eu recordo com perfeição do dia em que te vi pela primeira vez e fiquei prostrada, de braços cruzados, naquela rampa, observando os gestos, o sorriso, a maneira suave como àquela imagem se movia. E eu tive vontade de saber seu nome, dizer qualquer gracinha afim de que você me notasse, mas a vergonha impediu qualquer impulso. E eu continuei ali, parada, sem saber seu nome, sem dizer qualquer gracinha, vendo você ir embora.
E quando te vi pela segunda vez, quase não acreditei que era você mesma quem estava ali. Procurei coragem em vários copos de cerveja até conseguir ir a seu encontro te dizer que há três meses eu estava afim de você. E você sorriu. E eu me encantei pela segunda vez. E nós conversamos a eternidade de cinco minutos. E eu fui embora chateada quando te vi com outra pessoa, desejando àquele sorriso mais próximo, mais próximo, mais próximo...
E o acaso promoveu mais um encontro. Já sabia seu nome, já havia lhe dito gracinhas, já desejava desmedidamente àquele sorriso mais próximo de mim, mas ainda haviam tantos desejos, tanta vontade de saber mais sobre você. Sentada ao meu lado, você só sorria, nessa sua timidez profunda - e tão uma graça, e eu me encantei pela terceira vez. E então eu tive certeza de que eu me encantaria todas as vezes que visse você. Um beijo. "Posso te ligar?", "Claro." E a noite ali tornava-se perfeita.
O quarto, o quinto, o sexto, sétimo, oitavo, nono encontro... Eu já disse que você é a mais bonita? Não são apenas os olhos, o sorriso, os cabelos, os traços delicados... É toda essa suavidade que você emana, é toda essa paz que encontro acerca de você. É esse seu jeito tímido, é o seu não mandar mensagens, é o não receber suas ligações, mas você me surpreender com um chocolate. É sentar no chão para olhar as estrelas, tão mais belas, com você em meu pensamento, é sua mão ir ao encontro da minha, é você apenas me olhando enquanto eu te conto minhas histórias, é esse seu jeito único de me olhar por baixo, é você abraçada comigo, o seu corpo colado no meu. É você sorrindo esse sorriso tão lindo que me desarma, é você trocando de música o tempo todo no carro, é o seu silêncio...
Com você por perto, ando trilhando um caminho tranquilo, sem pressa, compreendendo que toda essa paz que encontro em ti é o que me faz tão bem. Faz tão pouco tempo, há tantas incertezas, mas é fato que os dias estão mais alegres, que as palavras estão mais doces, que o céu e as estrelas estão mais bonitos. É fato que a cada dia eu me encanto mais por você. Menina.

25 de março de 2010

Desejo

(...)
"Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho seja triste pra você
O seus olhos tem que ser só dos meus olhos
Os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois."

(Vinicius de Moraes, sempre ele)

26 de fevereiro de 2010

Recomeço

Havia muito a ser escrito.
As moças bonitas, os sorrisos sinceros, as lembranças as noites de festa, os dias ensolarados, os pés descalços, os banhos de chuva no quintal...
"Vai passar, tu sabes que vai passar..." sussurrava Caio F., e eu me agarrava a cada centímetro desta certeza na tentativa desesperada de recuperar o ânimo, a paz, o fôlego.
E falar era o fôlego.
Era necessário escrever sobre o que ainda doía afim de extirpar qualquer resquício de vazio e incerteza que insistisse em permanecer aqui dentro.
E partindo deste princípio fui me reerguendo. Dia após dia, palavra após palavra. Percorrendo novamente este caminho tanta vezes já trilhado.
E havia muito a ser escrito.
Os sonhos, as flores secas nas páginas dos livros, as conversas amistosas, as saudades, as histórias esquecidas...
Abri as gavetas, recuperei os cadernos, recuperei o fôlego.

19 de fevereiro de 2010

...ao fim.

"Na primeira manhã que te perdi, acordei mais cansado que sozinho..."
(Alceu Valença)

O que você não entende é que ao partir levarás contigo Chico, Vinícius, Neruda e toda a poesia. Porque quando você for embora, eu até tentarei reler os versos, mas doerá tanto, que eu desistirei.

O que você não entende é que eu dormirei todos os dias abraçada a um urso barrigudo, e vou cheirá-lo ainda que nele não haja mais seu cheiro, na doce esperança de encontrar algum resquício do seu perfume ali.

O que você não entende é que agora, todas as vezes em que eu entrar no meu carro, vou olhar para o banco ao lado e não mais te verei. Não vou mais ter seu colo para deitar, não vou ter com quem compartilhar minhas histórias nem planejar o meu futuro.

O que você não entende é que a fumaça do cigarro terá tons de solidão e eu não mais escreverei declarações de amor nas mesas dos bares. E até a cerveja gelada perderá seu sabor já que não terei com quem brindar, com quem conversar, com quem rir ao tomá-la.

O que você não entende é que meu ombro esquerdo carrega uma cicatriz rosada que por descuido você provocou e toda vez que eu olhar para ela, sofrerei sabendo que por dentro uma cicatriz mil vezes maior estará se abrindo.

O que você não entende é que eu terei de jogar um por um dos nossos planos ao vento. O casamento, a casa bonita, as viagens para lugares com lindas cachoeiras, nossa filha... Valentina, Valentina, Valentina.

O que você não entende é que meu corpo sentirá muito a falta do seu. Sua pele, sua boca, seu calor, suas mãos, nossas palavras... E só me restará a falta. A falta e o silêncio.

O que você não entende é que junto contigo irão embora os elogios. Meus perfumes nunca mais me tornarão "a mulher mais cheirosa do mundo" e eu vou passar a mão em meus cabelos detestando todas essas ondas, esquecendo quantas vezes você disse que ele era lindo.

O que você não entende é que você assistirá mil filmes e nunca mais me ligará para dizer: "Amor, certeza que você vai chorar com este." E quando eu assistir a qualquer filme e chorar muito, não haverá ninguém para me abraçar e dizer: "Minha chorona."

O que você não entende é que eu te chamava de minha vida e era verdade. E agora que eu te vejo indo embora sinto uma parcela quase que inteira minha partindo com você.

O que você não entende é que hoje, depois da nossa conversa, eu fui caminhando pela chuva com vontade de ser levada por ela. E ao entrar no carro, ensopada de chuva e lágrimas, eu tive vontade de gritar um "Não" bem alto, incrédulo, por tudo o que está acontecendo. E saí dirigindo sem saber para onde.

O que você não entende é que essa dor que eu estou sentindo nunca passará. Daqui há algum tempo eu vou parar de chorar compulsivamente, vou manter o controle, me acalmar, mas a dor continuará aqui, estática, solitária, tal e qual agora.

E o que você nunca, jamais entenderá, é que minha história ganhará reticências e não um final feliz. Foi embora da minha vida meu ponto final.

(As coisas que você não entende)

Do início...

A princípio a contemplação
Correr os olhos por entre imagens, render-se àquela face, deixar-se encantar, plenamente, ainda que desconhecendo qualquer parágrafo de sua história, apenas deixar-se encantar
Nadar num mar de dúvidas, mergulhar no não saber
Não saber quais paixões habitavam aquele coração
Será que é feliz? Será que sofre?
Não ela não poderia sofrer. Ela é feita de Lua e sonhos, emana suavidade, deve andar entre nuvens e poesias, pode até carregar consigo um quê de tristeza, mas uma menina tão linda não poderia sofrer
Em seguida, o encontro
A sensação de banhar-se em chuva e sentir o vento gelado percorrer o corpo, o coração, a espinha, mesclando intensidade e lentidão
Vê-la, hipnotizar-se
Pasmar-se diante daquela mulher
Os olhos, o misto perfeito entre a doçura e a sensualidade
Os lábios coroados com o sorriso tímido
A voz soando como acordes de um violão
O corpo, escultura sinuosa guardada pelo dragão
Os cabelos, cascatas negra por onde meus dedos gostariam de deslizar
E a covinha, ah, a covinha
A maneira mais sublime que Deus encontrou para colocar um ponto final em toda aquela perfeição
Era ela, eu tive então certeza. Era ela a quem eu devotaria os sentimentos mais puros e as sensações mais intensas
Era ela quem ali fez com que eu me rendesse, quebrasse toda e qualquer barreira que eu tivesse construído afim de proteger meu coração
Era por ela quem eu esperava naquelas madrugadas tristes em que chorava sozinha por entre meus lençóis, era com ela que eu sonhava todas as noites, era por ela que eu planejava, era ela quem eu sempre quis
E eu me desarmei, me perdi completamente por entre seus olhos, seus lábios, sorriso,voz, corpo, cabelos...
E a covinha, ah, a covinha
A maneira mais sublime que Deus encontrou para me dizer que ela seria meu ponto final.