20 de maio de 2010

"However far away, I will always love you..."
(The Cure)

A seleção de música clássica misteriosamente começa a tocar como uma travessura do destino e meu coração dispara. Fecho os olhos e seguro com toda a força as lágrimas que insistem em brotar.
As seis letras que me acompanharam durante 18 anos tomam conta de meus pensamentos e minhas lembranças. Ballet, o grande amor da minha vida.
Das saudades que carrego comigo nenhuma dói mais do que esta. Impossível esquecer algo que está entranhando em você, que faz parte da sua história. Eu recordo todos os dias da sala repleta de espelhos, do cheiro de breu, das aulas de barra, dos intermináveis e cansativos (mas tão deliciosos) ensaios em véspera de apresentações...
O ballet era para mim um paralelo mágico. A meia calça furada, o suor escorrendo, a dor quase insuportável pelas inúmeras lesões, os pés sangrando em dias de ensaio e a fantasia impecável, a maquiagem perfeita, os analgésicos mascarando as dores, as feridas dos pés cuidadosamente envoltas em curativos e o sorriso pleno em dias de apresentação.
Em dezoito anos fui estrela, fada, princesa, escrava, cigana... Vivi todos os contos de fada possíveis. Emocionei pessoas, me emocionei, conheci um estado de alegria sublime, superei limites físicos, adquiri disciplina e uma força interior surpreendente.
Parece que ainda ontem estava no palco, sob o holofote, recebendo os aplausos do público, sorridente. Mas já se passaram seis meses desde a última apresentação. Os tutus e outras fantasias estão pendurados no guarda-roupa, os incontáveis pares de sapatilha guardados, a tatuagem da bailarina em um arabesque estampada em minhas costas, as cicatrizes dos machucados em meus pés, as lesões que adquiri durante este tempo ainda doem, tudo ainda se faz presente aqui. Tanto quanto essa saudade, silenciosa, doída. Tanto quanto esse amor, único, incondicional.

10 de maio de 2010

Menina

"Look your photos, wish I'd known you forever..."
(Reflections of a skyline)

É que você carrega consigo um magnetismo que me encanta. E eu recordo com perfeição do dia em que te vi pela primeira vez e fiquei prostrada, de braços cruzados, naquela rampa, observando os gestos, o sorriso, a maneira suave como àquela imagem se movia. E eu tive vontade de saber seu nome, dizer qualquer gracinha afim de que você me notasse, mas a vergonha impediu qualquer impulso. E eu continuei ali, parada, sem saber seu nome, sem dizer qualquer gracinha, vendo você ir embora.
E quando te vi pela segunda vez, quase não acreditei que era você mesma quem estava ali. Procurei coragem em vários copos de cerveja até conseguir ir a seu encontro te dizer que há três meses eu estava afim de você. E você sorriu. E eu me encantei pela segunda vez. E nós conversamos a eternidade de cinco minutos. E eu fui embora chateada quando te vi com outra pessoa, desejando àquele sorriso mais próximo, mais próximo, mais próximo...
E o acaso promoveu mais um encontro. Já sabia seu nome, já havia lhe dito gracinhas, já desejava desmedidamente àquele sorriso mais próximo de mim, mas ainda haviam tantos desejos, tanta vontade de saber mais sobre você. Sentada ao meu lado, você só sorria, nessa sua timidez profunda - e tão uma graça, e eu me encantei pela terceira vez. E então eu tive certeza de que eu me encantaria todas as vezes que visse você. Um beijo. "Posso te ligar?", "Claro." E a noite ali tornava-se perfeita.
O quarto, o quinto, o sexto, sétimo, oitavo, nono encontro... Eu já disse que você é a mais bonita? Não são apenas os olhos, o sorriso, os cabelos, os traços delicados... É toda essa suavidade que você emana, é toda essa paz que encontro acerca de você. É esse seu jeito tímido, é o seu não mandar mensagens, é o não receber suas ligações, mas você me surpreender com um chocolate. É sentar no chão para olhar as estrelas, tão mais belas, com você em meu pensamento, é sua mão ir ao encontro da minha, é você apenas me olhando enquanto eu te conto minhas histórias, é esse seu jeito único de me olhar por baixo, é você abraçada comigo, o seu corpo colado no meu. É você sorrindo esse sorriso tão lindo que me desarma, é você trocando de música o tempo todo no carro, é o seu silêncio...
Com você por perto, ando trilhando um caminho tranquilo, sem pressa, compreendendo que toda essa paz que encontro em ti é o que me faz tão bem. Faz tão pouco tempo, há tantas incertezas, mas é fato que os dias estão mais alegres, que as palavras estão mais doces, que o céu e as estrelas estão mais bonitos. É fato que a cada dia eu me encanto mais por você. Menina.