24 de junho de 2010

Encontro

Acontecia sempre.
Ela e essa mania torpe de se apaixonar por qualquer pessoa.
Ela e essa mania torpe de "vamos viver tudo que há pra viver".
E ela conhecia dezenas de pessoas, e ela encontrava em cada sorriso, em cada elogio, em cada ligação no dia seguinte uma possibilidade maluca de ter alguém por perto. Alguém que compreendesse esse jeito estranho, suas insônias, sua dependência por café e Coca Cola Zero, sua mania de comer cada componente de um sanduíche separadamente, suas conversas e histórias intermináveis, seus silêncios quase que perturbadores enquanto escreve... Alguém.
E então aconteciam todos aqueles ritos de conquista. E beijos, mãos, mordidas... E ela se deixava levar por momentos e sensações e repetia para si mesma: "Estou me apaixonando. Estou me apaixonando. Estou me apaixonando.".
Não. Ela não estava. E isso ficava claro dentro de algumas horas, dentro de alguns dias, semanas. E os beijos, as mãos, as mordidas que a princípio pareciam tão agradáveis tornavam-se insuportáveis. E ela até tentava reencontrar a pessoa, mas sentia tanto asco que sua única vontade era entrar em seu carro e ir embora. E era o que fazia. E sentia aquele vazio imenso. Sentia que buscava por algo que não se procura. Sentia vontade de estar em paz.
E ela que nunca gostou muito de sair estava marcando presença em todas as festas. E ela que nunca foi fã de destilados tomava copos e copos de vodka. E em meio a tanta agitação, a tanta música alta, a tantas pessoas eufóricas e desconhecidas dançando, ela não se reconhecia. E o vazio aumentava. E ela chorava e acreditava que aquilo era o que fazia melhor.
E ela dormia, acordava, tomava seu café, trabalhava, tomava seu café, estudava, tomava sua Coca e em seguida seu café, voltava para casa, deitava, pensava, pensava, pensava, chorava um pouco, levantava, escutava músicas, escrevia compulsivamente, chorava, fazia planos, percebia que não dariam certo, chorava, tentava dormir, não conseguia, tomava café, pensava, sentia-se sozinha, sentia-se muito sozinha.
Aí ela encontrou você.