8 de dezembro de 2010

Esses dias um amigo argentino meu estava com um trecho de Sampa ("É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi...") no subnick do MSN.
Ele é músico e completamente fascinado por MPB. Abri sua janela e enviei "Da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas..." e ele logo me contou que estava tocando compulsivamente esta música no piano.
Enviei para ele uma foto minha e de alguns amigos fazendo pose na esquina das Avenidas Ipiranga e São João, na recente viagem que fizemos à São Paulo e o hermano foi a loucura.

-Gabiii, me haces viajar. Que hermoso fue eso. Yo AMO a Brasil!

Achei doce. Extremamente doce e sincero. Um argentino apaixonado por terras brasileiras. Contraditório e bonito.
Sinceramente? Alguma coisa também acontece no meu coração quando cruzo a Aduana Argentina.

3 de dezembro de 2010

Dezembro chegou, a minha depressão natalina também (tema para outro post mais próxima à festa cristã, do velho e do novo, blá, blá, blá) e estou cansada.
Cansaço em perfeita harmonia com a vontade de chutar o balde e mandar geral tomar no cu.
Aí ontem, assisti um vídeo esquecido em meu computador. Um vídeo bem tosco, com fotos de uma viagem que fiz para o litoral de Santa Catarina entre dezembro de 2007 e janeiro de 2008. E olha, que saudade!
Os meus cabelos ainda tingidos de loiro, eu e minhas primas, cada dia uma praia diferente. E o Sol, e o mar e os passeios pelo calçadão de Camboriú. Cervejas, caipirinhas, vodka misturada a qualquer coisa. E eu gastando todo meu espanhol com os argentinos, paraguaios e chilenos que encontrávamos pelo caminho. Pés descalços na areia e flores para Iemanjá na virada do ano. Porres homéricos. Porres homéricos aliados a baladas homéricas. Coisas como cantar "Yo te digo todo va a estar bien, no te preocupes mas, oh no..." a plenos pulmões em cima de um banco, sair pra comprar vodka de baby doll, ir comer na pizzaria evangélica que servia pizzas como "Apocalipse" e "Thiago Zebedeu"... Enfim, férias inesquecíveis.
Inesquecíveis talvez porque aqueles eram outros tempos. Talvez porque eu não tivesse tantas preocupações. Talvez porque eu estivesse solteira, depois de tanto tempo (e tanta merda), cantando como um mantra "Sou praieiro, sou guerreiro, tô solteiro, quero mais o quê-ê" e balançando os bracinhos de uma maneira ridícula. Talvez porque ainda não tivesse saído do armário. Talvez porque estava na companhia das minhas primas. Talvez porque uma delas ainda não era mãe aos 16 anos. Talvez porque eu ainda não estava na faculdade. Talvez porque eu ainda não tinha nem 20 anos. Talvez...
(Suspiro)
Não é uma reclamação, é só saudade. Saudade da irresponsabilidade de outrora. O tempo trouxe a faculdade, os trabalhos, problemas em família, maturidade, bons amigos, uma pessoa maravilhosa que está a meu lado, planos para mais férias inesquecíveis... Trouxe coisas boas, trouxe coisas ruins, esse cansaço todo final de ano e a nostalgia daquela época boa.
É, é só saudade.

1 de dezembro de 2010

Escolhas

A vida é feita de escolhas.
Ainda hoje conversávamos sobre essa coisa de "cada escolha uma renúncia" e talz.
Eu escolhi cursar Comunicação Social. E semana passada eu tive uma crise. Crise do tipo "Céus, porque é que estou fazendo Jornalismo?".
Eu acreditava piamente que queria ser jornalista. No Ensino Médio era uma das poucas pessoas que dizia com firmeza que curso gostaria de fazer. Passei com méritos em todas as faculdades particulares da cidade, mas o objetivo era a Federal e enquanto eu não passasse eu não sossegaria.
Passei para Letras (minha segunda opção) e decidi começar o curso. Seis meses depois, após muita encheção de saco por parte da minha mãe, prestei mais um vestibular para Jornalismo e acabei passando.
Chororô, alegria, trote, toda aquela palhaçada que acompanha o pacote "Passei no vestibular". Lembro a felicidade com que fiz a matrícula e o entusiasmo nas primeiras semanas de aula.
Tsc.
Dois anos depois e eu não me reconheço. Eu via o Jornalismo com outros olhos. Um curso alternativo e dinâmico, professores apaixonados pela profissão, colegas de mente aberta... E o que encontrei? Nada do que eu procurava.
Ok. Eu escolhi fazer Comunicação Social na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Mato Grosso do Sul, né? Quase uma fazenda. Se eu tivesse seguido os passos (e os conselhos) de meu pai, estaria formada em Medicina Veterinária, fazendo exames andrológicos e ganhando muita grana. Mas, mexer com bovinos nunca foi a minha praia e cá estou eu, em crise.
Entre um desespero aqui, um choro convulsivo ali, eu descobri que SÓ gosto de escrever. E SÓ gostar de escrever não significa (e nunca significou) que eu poderia ser jornalista. Eu não gosto de ter um tema específico para escrever, eu não gosto de trabalhar sob pressão, eu não me importo com a ética e com a cultura de massa. Eu não gosto de estudar os ângulos da fotografia e as ferramentas do CorelDRAW. Eu não aguento professores desinteressados. Eu aguento muito menos colegas que curtem Los Hermanos, fazem discursos políticos, fumam um e são preconceituosos até dizer chega. "Mas você tem um rosto ótimo para Tele". Caguei pro Telejornalismo.
É claro, nem tudo é ruim e eu sei que tudo isso não teria importância se eu realmente sentisse que tenho vocação para a coisa. Eu gosto de fazer entrevistas, eu me divirto narrando notícias na disciplina de Radiojornalismo, eu gosto das discussões inteligentes que vira e mexe começam durante as aulas, eu conheci pessoas maravilhosas, humanas e que certamente serão excelentes profissionais, mas, ainda falta algo.
Falta paixão, falta gostar do que se faz, falta vontade. Não consigo disfarçar o sorriso amarelo quando encontro os antigos colegas de Letras e eles me perguntam: "E aí, tá gostando de Jornalismo?"
Sinto falta das aulas de Semiótica, de Latim. Dos livros de Literatura Portuguesa, das citações poéticas. Meu conteúdo jornalístico é sempre tão literário. Ironias da vida.
Mas, a vida é feita de escolhas e eu escolhi Jornalismo. E todos dizem que eu devo continuar. E já na metade do curso, eu acredito que talvez seja a melhor opção.
Ou não. Vai saber.