19 de agosto de 2010

Na sua ausência não há vontades.
Não quero pintar as unhas. Não há cor de esmalte que represente vazio. Não tento desembaraçar as ondas do meu cabelo e vou trabalhar com os fios estranhamente amarrados. E de tênis. Sujo.
Passo as horas com os olhos marejados. Insône, as noites intercalam pesadelos e nós no peito. Nós no peito, nós na garganta, nós no coração, nós.
Na sua ausência todas as músicas tornam-se, inexplicavelmente, tristes. Assim como os livros, as palavras, meus escritos, meus passos... Eu espero e-mails que nunca chegarão. Eu insisto em ligações que nunca serão atendidas.
Eu deixo a manha de lado. Não faço birra, não faço bico. Faço todas as refeições diárias, não exagero nas doses de café. Lembro de todas as suas recomendações.
Quando você não está, eu olho pro céu e não vejo estrelas. Não há dança que me embale, não há sorriso que me encante. Não há cheiro que não seja o seu, em todos os lugares.
Na sua ausência eu sou um ser inanimado. Não sonho, não faço planos. Sou andarilha carregando um fardo de culpa. Sou ausente também.
Mas se você está, ah, se você está. Sinto vontade de trocar de esmalte todos os dias, de arrumar meus cabelos só para você desarrumá-lo depois e eu perguntar "Meu cabelo tá bagunçado?". Sair de sandálias de salto alto e ficar muito maior que você. Rir do seu tênis. Sujo.
Trocar as lágrimas por sorrisos. Ter noites de insônia, mas rolar de um lado para o outro pensando em você, intercalando sorrisos e sonhos de olhos abertos. Enviar mil e-mails sem esperar resposta, só pelo prazer de que você os leia. Ligar só para escutar o seu "Oi".
Quando estás, faço manha, birra e bico e ouço você dizer que pareço uma criancinha. Tenho preguiça de comer, mastigo lentamente qualquer porcaria, tomo mais de cinco xícaras de café por dia. Não sigo nenhuma recomendação e levo inúmeras broncas suas. Escuto-as segurando o riso e te dou um beijo no rosto em seguida. E você me olha com cara de quem acredita que eu não tenha mesmo jeito.
Na sua presença, olho pro céu e enxergo todas as constelações, ainda que o céu esteja nublado ou ausente de estrelas. Danço todos os ritmos, me encanto e consequentemente me apaixono todos os dias por seu sorriso. Transfiro seu cheiro para minhas roupas, para o meu corpo, para a minha pele.
Quando você está eu tenho paz. Sonho, planejo, escrevo, me inspiro. Sou poeta carregando um fardo de doçura. Quando você está, eu também estou. Sou presente. És parcela minha. A mais linda, eu diria.

17 de agosto de 2010

À espera

Eu tomo café como água e continuo sem saber o que dizer.
Eu ainda não sei como sair da cama no horário. E isso não é bonito ou encantador.
Eu te sussuro segredos. Eu ainda procuro por salvação. Às vezes sou tão fraca, às vezes sou tão forte.
Então você vai.
Eu te daria tudo por mais uma chance.
Meu coração é feio, mas pode ser só seu.

E já é.

2 de agosto de 2010

Respostas

Engraçado como a vida, ainda que vagarosamente, nos dá respostas.
Eu lembro de um final de tarde ensolarado, um dia após o término de um namoro. Sentada na mesa de um bar, bebia em silêncio um copo de cerveja enquanto meus amigos tentavam de todas as maneiras me alegrar um pouco. Em meio a tanta condolência tentei dizer algo, mas lágrimas caíram e eu silenciei novamente.
Em seguida, uma amiga segurou a minha mão, olhou em meus olhos e disse:
-É tudo uma questão de caráter. O que aconteceu contigo é a prova do que estou te falando.
Ela conhecia a pessoa com quem eu namorei e provavelmente sabia de algo que eu desconhecia, mas só disse aquilo, creio que para me preservar de mais sofrimento.
Naquele momento que não compreendi muito bem aquelas palavras. E tentar entender seria lembrar sempre daquela pessoa que eu precisava esquecer. Sofri muito com o fim desse relacionamento, foi com grande custo que consegui me reerguer, mas o tempo passou e eu consegui reavivar aquela filosofia de que tudo na vida é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.
Há alguns dias presenciei uma cena e compreendi o que minha amiga havia me dito naquela tarde. A vida ali me sorria um sorriso largo.
Era tudo uma questão de caráter, ou melhor, da ausência dele. Distante, muito distante do sentimento da perda daquele alguém, eu pude discernir o quanto aquilo teria me feito mal se levado à diante. E eu me senti tão feliz por ter a consciência tranquila, por ter tido o respeito e o caráter ausentes naquela pessoa. Eu me senti feliz por ter feito e continuar fazendo a coisa certa. É isso que nos deixa em paz.