6 de outubro de 2010


Ela tinha 7 anos e era uma criança feia.
Tinha poucos amigos, nunca era convidada a entrar nas brincadeiras, era sozinha e aprendeu a fazer todas as coisas desta maneira. Preenchia as horas solitárias lendo livros e rascunhando textos.
Dia 21 de setembro aproximava-se e a professora daquela turma primária passou como tarefa uma redação sobre o dia da árvore. À noite, em casa, ela sentou em sua escrivaninha e passou boas horas pensando, escrevendo, apagando, reescrevendo... Aquilo tudo era tão prazeroso. Ela estava livre de atividades envolvendo números, formas geométricas, textos insossos de Estudos Sociais e Ensino Religioso...
Alguns dias depois, a professora apanhou os papéis sob a mesa e passou a distribuir as redações avaliadas. Fernanda, José Renato, Bianca, Flávia, Maykon... Seu nome não chegava nunca. O coração acelerado, as mãozinhas suando...
Restou uma única folha nas mãos da professora. Ela disse que aquele texto era especial e por isso leria para toda a turma.
Leu o poema sobre árvores com a entonação típica das "tias" do primário. A menina feia envergonhou-se, mas no fundo, estava orgulhosa de si. Recebeu a redação e um abraço apertado da professora. Talvez ela soubesse o quanto aquilo era importante para aquela criança gordinha e rejeitada. Talvez não tivesse idéia.
Naquele dia, a menina foi para a casa contente, querendo contar a novidade aos pais e avós. Sua mãe guardou cuidadosamente (e carinhosamente) o papel.
A criança feia ainda não sabia ao certo o que responder quando lhe perguntavam o que seria quando crescesse, mas a partir deste dia, sabia que nunca mais deixaria de escrever.
E continua escrevendo. Até hoje. Em seus cadernos, em sua agenda, em pedaços de papel e neste blog.


O papel em que foi escrito o poema continua guardado. Um pouco amarelado e puído pelo tempo, mas guardado.

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