19 de fevereiro de 2010

...ao fim.

"Na primeira manhã que te perdi, acordei mais cansado que sozinho..."
(Alceu Valença)

O que você não entende é que ao partir levarás contigo Chico, Vinícius, Neruda e toda a poesia. Porque quando você for embora, eu até tentarei reler os versos, mas doerá tanto, que eu desistirei.

O que você não entende é que eu dormirei todos os dias abraçada a um urso barrigudo, e vou cheirá-lo ainda que nele não haja mais seu cheiro, na doce esperança de encontrar algum resquício do seu perfume ali.

O que você não entende é que agora, todas as vezes em que eu entrar no meu carro, vou olhar para o banco ao lado e não mais te verei. Não vou mais ter seu colo para deitar, não vou ter com quem compartilhar minhas histórias nem planejar o meu futuro.

O que você não entende é que a fumaça do cigarro terá tons de solidão e eu não mais escreverei declarações de amor nas mesas dos bares. E até a cerveja gelada perderá seu sabor já que não terei com quem brindar, com quem conversar, com quem rir ao tomá-la.

O que você não entende é que meu ombro esquerdo carrega uma cicatriz rosada que por descuido você provocou e toda vez que eu olhar para ela, sofrerei sabendo que por dentro uma cicatriz mil vezes maior estará se abrindo.

O que você não entende é que eu terei de jogar um por um dos nossos planos ao vento. O casamento, a casa bonita, as viagens para lugares com lindas cachoeiras, nossa filha... Valentina, Valentina, Valentina.

O que você não entende é que meu corpo sentirá muito a falta do seu. Sua pele, sua boca, seu calor, suas mãos, nossas palavras... E só me restará a falta. A falta e o silêncio.

O que você não entende é que junto contigo irão embora os elogios. Meus perfumes nunca mais me tornarão "a mulher mais cheirosa do mundo" e eu vou passar a mão em meus cabelos detestando todas essas ondas, esquecendo quantas vezes você disse que ele era lindo.

O que você não entende é que você assistirá mil filmes e nunca mais me ligará para dizer: "Amor, certeza que você vai chorar com este." E quando eu assistir a qualquer filme e chorar muito, não haverá ninguém para me abraçar e dizer: "Minha chorona."

O que você não entende é que eu te chamava de minha vida e era verdade. E agora que eu te vejo indo embora sinto uma parcela quase que inteira minha partindo com você.

O que você não entende é que hoje, depois da nossa conversa, eu fui caminhando pela chuva com vontade de ser levada por ela. E ao entrar no carro, ensopada de chuva e lágrimas, eu tive vontade de gritar um "Não" bem alto, incrédulo, por tudo o que está acontecendo. E saí dirigindo sem saber para onde.

O que você não entende é que essa dor que eu estou sentindo nunca passará. Daqui há algum tempo eu vou parar de chorar compulsivamente, vou manter o controle, me acalmar, mas a dor continuará aqui, estática, solitária, tal e qual agora.

E o que você nunca, jamais entenderá, é que minha história ganhará reticências e não um final feliz. Foi embora da minha vida meu ponto final.

(As coisas que você não entende)

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